16/11/2011

Prática do "cair do Espírito" gera controvérsias

A prática de “cair no espírito”, presente em diversas igrejas evangélicas no Brasil e no mundo, descrita na série “Grandes Reportagens” do programa Domingo Espetacular, da Record provoca controvérsias entre os próprios evangélicos.

Enquanto alguns apoiam a iniciativa, justificando o “cair” como maneira de ficar em plena comunhão com o divino, outros condenam a prática, classificando-a como modismo teológico.

De acordo com o apologista Johnny T. Bernardo, fundador do Instituto de Pesquisas religiosas (INPR Brasil), a prática não é aceita de forma unânime nas igrejas adeptas do fenômeno e mesmo nas igrejas petencostais. “São características esporádicas, presentes em igrejas de pouca formação teológica e que supervalorizam o ‘místico’ e o ‘sobrenatural’”, diz.

Segundo o estudioso, muitas pessoas, tanto latinas como de origem anglo-saxônica são facilmente atraídas por modismos teológicos e religiões de poder. “São características individuais e que variam de igreja para igreja e de país para país. É possível encontrar por, exemplo, igrejas em Nova York que induzem seus membros ao “cair no espírito”, mas também outras que optam por uma liturgia mais leve, com ministração de louvor e estudo bíblico. “Trata-se, pois, de um fenômeno global, e não apenas regional”.

História

O “cair no espírito” é uma prática adaptada pelas igrejas em célula e sua origem está na visão de Bogotá (G12).

Segundo Bernardo, o fenômeno passou a ser visto também como uma demonstração de que o crente está em plena comunhão com o divino.

Uma das igrejas pioneiras na prática é a Comunidade Cristã do Aeroporto, de Toronto, Canadá que, além do “cair no espírito”, tornou-se mundialmente conhecida pela “unção do riso” – experiência segundo a qual o crente começa a rir descontroladamente, seguido pelo “cair no espírito”. Outro “fenômeno” é o dente de ouro, prática comum em algumas igrejas pentecostais brasileiras, durante a década de 80.

A unção de Toronto passou a ser usada nas chamadas “ministrações”, reuniões de êxtase “espiritual” induzida por ministradores – pastores ou líderes de células – em ocasião de congressos e encontros.

Um dos primeiros a introduzir a prática no Brasil foi o casal César e Cláudia Castelhanos, autores e líderes internacionais da igreja em células. Presentes no 1º Congresso Nacional de Igrejas em Células no Modelo dos 12, realizado em junho de 2000, em Sumaré, SP, o casal ministrou a unção de Toronto, diante dos quais diversas pessoas, entre pastores e líderes, foram ao chão.

O crescimento exponencial do Protestantismo, que chega atualmente a cerca em torno de 590 milhões de seguidores, produziu uma igreja com diversas faces e formas de atuação, explica o apologista.

“é um fenômeno natural, mas que precisa de acompanhamento bíblico e eclesiástico. Os casos de Paulo e João que subiram ao céu por meio de um arrebatamento são fatos bíblicos que comprovam a atuação divina sobre o homem.”, diz Bernardo.

O estudioso acredita que a forma como algumas igrejas interpretam tal fenômeno foge à reta ortodoxia e constitui-se num prejuízo ao Evangelho.

“A virtude do Espírito é dada à Igreja como uma forma de “dunamis” (poder, impulso) para que esta realize a obra de Deus (Atos 1.8). é mais um sinal interno do que externo.”, conclui Bernardo.


The Christian Post / INPR Brasil




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Uma metrópole e várias religiões

Em recente artigo sobre as religiões de Nova York, oferecemos uma breve introdução ao que chamamos de “fenômeno religioso globalizado” ou “as religiões das cidades globais”. Na ocasião, fizemos referência a São Paulo como uma das cidades – alvo das grandes religiões, a partir de onde milhares de grupos se difundem pelo país e controlam seus rebanhos. É o caso, por exemplo, da Perfect Liberty (com 14 representações, dentre as quais uma clínica de Assistência Médica na vila Mariana), da Messiânica Mundial (com sede em SP e que possui uma área de 327.500 às margens da Guarapiranga onde funciona o “Solo Sagrado”), da Seicho – no – iê (com sede no Jabaquara) da Congregação Cristã no Brasil (Brás), da Catedral Metropolitana Ortodoxa (uma espécie de Sé da Igreja Ortodoxa Antioquia) etc.

Nos últimos anos São Paulo tem experimentado também o crescimento das religiões esotéricas, como o Círculo Esotérico Comunhão do Pensamento, o Templo do Poder Espiritual e Cura Interior e grupos católicos exóticos, como a Igreja Católica das Santas Missões que promove campanhas de cura, libertação e exorcismo dirigidas pelo Pe. Zezinho e equipe de videntes (Brás).

A rádio Mundial é o front de batalha e marketing do esoterismo em São Paulo. Esotéricos, como a profetisa Lucia de Luca (do Templo do Poder Espiritual e Cura Interior) utiliza o espaço para divulgar suas campanhas de queima de espinhos, consultas de espiritualidade, o que são espíritos obsessores etc. Há ainda outros, como o médium Luiz Antonio Gaspareto (que afirma incorporar espíritos de pintores famosos), Primaz Aldo Bertoni (atual presidente da Igreja Apostólica Santa Avó Rosa, com sede no Tatuapé e apresentador da Hora Milagrosa) e o Pai Valdir de Oyá (sacerdote e Babalorixá do Culto dos Orixás e que mantém um instituto que leva seu nome).

Também encontramos em São Paulo grupos terapêuticos e de cura interior, como as palestras de regressão psicológica promovidas pelo terapeuta Amadeu Wolf em sua sede em SP e em hoteis do Estado. Mas o destaque recai mesmo sobre as igrejas neopentecostais, como a Igreja Universal do Reino de Deus (Brás), Igreja Apostólica Renascer em Cristo (Vila Mariana), Internacional da Graça de Deus (Centro), Igreja Mundial do Poder de Deus (do bispo Valdomiro Santiago e que funciona no galpão de uma antiga fábrica da Rua Carneiro Leão, no Brás) e a mais recente, a Igreja Mundial Renovada (uma dissidência da IMPD e que funciona a poucos metros da Igreja Mãe).

Das igrejas neopentecostais, a IURD é a de maior destaque. É dela o projeto de maior ambição - pretende construir uma réplica do Templo de Salomão no coração de São Paulo. Há ainda outras mega – igrejas, como a sede da Deus é Amor na Baixada do Glicério que é cinco vezes maior que a Catedral da Sé, há poucas quadras de distância.

São Paulo é mesmo uma cidade multifacetada. Segundo uma reportagem feita em 2009 pelo jornal O Globo, a cidade de São Paulo ganhou, em média, um novo templo religioso a cada dois dias nos últimos quatro anos anteriores a matéria. Dados da Prefeitura mostram que somente em 2009 haviam 3.584 imóveis registrados como templos ou igrejas. O jornal chama atenção também para a diversidade.

“Entre as igrejas, há locais que abrigam punks, gays, judeus, católicos, evangélicos e mórmons. Em muitos casos, são imóveis adaptados para receber os fiéis. A igreja Renascer, cujo teto desabou no Cambuci, matando nove pessoas e ferindo mais de cem, era um cinema e também já foi uma concessionária de automóveis. O local está sendo demolido. Na zona leste, uma lanchonete do Mc Donald's foi adaptada para se tornar um templo da Universal.

A Avenida Celso Garcia, na zona leste, transformou-se numa espécie de 'avenida da fé'. Pelo menos oito templos com credos diferentes foram abertos quase vizinhos uns aos outros. Os templos estão a menos de 400 metros uns dos outros.”

por Johnny Bernardo
do INPR Brasil



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Nova York: a capital mundial das religiões

Há algum tempo venho estudando o que chamo de "fenômeno religioso globalizado" ou "as religiões das cidades globais". Calma, é bem simples: há um intercâmbio interessante entre economia verso religiões nas grandes cidades mundiais. Não só Nova York, mas também São Paulo, Rio de Janeiro, Tóquio, Los Angeles, Amsterdã e nas demais 47 cidades classificadas pela ONU como "cidades globais", isso ocorre com mais ou menos intensidade.

Talvez você deverá perguntar: mas que relação existe entre religião e Financial Times? A mesma pergunta deveria ser feita aos discípulos de Escrivá de Balaquer: que importãncia tem para a fé católica um edifício no valor de 40 milhões de dólares no núcleo nervoso de Manhattan? Por que não em Nova Orleans, cidade históricamente mais carente e descriminada dos EUA?

São perguntas interessantes e que mostram a realidade em que vivem as religiões nas grandes cidades do mundo. Por incrível que pareça, muitas religiões (especialmente as mundiais) possuem uma estratégia de crescimento semelhante ao das grandes corporações. Vou explicar: é mais interessante ter um escritório em uma área valorizada de Manhattan, do que em qualquer outra cidade do oeste dos EUA (com excessão, é claro, da Califórnia, maior centro industrial e demográfico do país). São dois os motivos:

a) Economia. Uma empresa situada em uma área nobre tende a ser mais valorizada no mercado financeiro;

b) Imagem. Além de ser bom para as finanças, as grandes corporações ganham em visibilidade ao instalar seus escritórios em áreas nobres. O mesmo acontece com muitas religiões.

Nova York é uma cidade profundamente religiosa, com imensas mesquitas, templos, igrejas etc. Tony Carnes, autor do livro "New York Glory, Religions in the city", fez a seguinte afimação lógica. "A religião é um componente central do mundo social e cultural de Nova York". De fato, quando circulamos por Nova York nos deparamos com inúmeras catedrais e, principalmente, com sedes administrativas de inúmeras religiões. A lista é imensa, mas podemos citar algumas: Igreja da Unificação do Rev. Moo, Torre de Vigia, Opus Dei, IURD etc. Também é possível encontrar pelas ruas de NY discípulos de Dalai Lama, rastafaris, muçulmanos, sikins, judeus e inúmeros profetas da prosperidade e do apocalipse.



por Johnny Bernardo
do INPR Brasil





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O Neopentecostalismo e a ética cristã


“Crédito ou débito? - Quem pergunta é o pastor da Igreja Internacional da Graça de Deus que recolhe o dízimo e outras doações munido da máquina para registrar operação com cartão de crédito."

O trecho acima introduz a matéria Templo é dinheiro, da jornalista Sarah Corazza, da revista paranaense Ideias. A matéria é resultado de um mês de visitas a templos neopentecostais de Curitiba, quando a autora constatou que os “neopentecostais fazem sucesso de público e de bilheteria.” Segundo Corazza, houve um tempo em que Curitiba era conhecida como a “cidade das farmácias”, dada a quantidade de farmácias por metro quadro. Hoje a realidade é outra: são os templos neopentecostais que chamam atenção.

Presentes na capital paranaense desde pelo menos o começo dos anos 80, uma das que mais se destacam é a IURD, que, segundo a reportagem, adquiriu a antiga fábrica Matte Leão para abrigar o seu rebanho que não para de crescer. A jornalista atribuí tal façanha ao crescimento desenfreado e ambicioso dos cofres da instituição.

“Logo se vê que as neopentecostais fazem sucesso não apenas de público, mas também de bilheteria. É incalculável o que arrecadam diariamente. O suficiente para abrir templos e também para financiar o proselitismo eletrônico que ocupa boa parte do horário televisivo e radiofônico. Isso custa dinheiro. Muito dinheiro. Tanto que a Universal do Reino de Deus, do financista e bispo Edir Macedo, comprou a sua própria rede de televisão.” [1]

O que vemos em Curitiba se perpetua por todo o país e atravessa as fronteiras, com adeptos nos EUA, Europa e também nos países abaixo do Saara. Não apenas a IURD, mas também boa parte das igrejas neopentecostais vivem o bom da ignorância de milhares de brasileiros que diariamente peregrinam para seus templos em busca de cura e prosperidade. São massas sem doutrina que orbitam em torno de crendices populares e sessões de descarrego da Igreja Universal, passando pelas campanhas do sabonete ungido da Graça de Deus e do lenço abençoado do Valdomiro. Isaltino Gomes Coelho completa.

“As igrejas neopentecostais, e a IURD é o maior exemplo, não são compostas de pessoas envolvidas em uma Koiononia cristã. A maior parte não se conhece. Não há um projeto eclesiástico comum aos frequentadores, que são apenas clientes que buscam uma resposta mágica para seus problemas”. [2]

Essas igrejas, diria Antonio Gouveia Mendonça em sua obra “O Neopentecostalismo, Excerto de Estudos da Religião”, são controladas por pessoas ou por grupos sem dever para com os clientes, a não ser passar-lhes um produto, normalmente sob contribuição financeira. São usuários sem os direitos e sem um procon ao qual recorrerem. Consomem o produto, mas não têm poder de ingerir no sistema.

De acordo com o sociólogo Ricardo Marinho, autor de “Neopentecostais – Sociologia do Novo Pentecostalismo no Brasil” -, “a preocupação dos neopentecostais é com esta vida. O que interessa é o aqui e o agora”. Essa citação consta da matéria “Evangélicos, quem são eles, por que crescem tanto e o que essa expansão significa para o Brasil e para o mundo”, publicada em fevereiro de 2004 pela revista Super Interessante. Nela, o jornalista Sérgio Gwevman faz uma análise do crescimento dos evangélicos brasileiros e atribui ao Neopentecostalismo um papel central nessa expansão. Uma das características do proselitismo praticado pela IURD, segundo Gwevman, é a atribuição aos demônios boa parte dos males que atingem os fieis.

“Para os neopentecostais, os homens não são responsáveis pelos atos de maldade que cometem: é o Diabo que os leva a pecar. Numa sessão de descarrego da Igreja Universal, o pastor explicou que, se o fiel enfrenta um problema há mais de três meses, é provável que esteja carregando um encosto. ‘Se a dificuldade completar um ano, daí não há dúvida: a culpa é do demônio’, disse a congregação. Ele não se referia só a entraves financeiros ou comportamentais. A receita vale para tudo, inclusive para doenças incuráveis. Assim, expulsar o demônio do corpo é a receita única para todos os males, de casamento infeliz até câncer no pulmão”. [3]

Wemerson Marinho, em sua análise “Pontos Discutíveis do Movimento Neopentecostal” levanta estas e outras questões relacionadas ao sistema litúrgico e isolamento espiritual que são submetidos os frequentadores das igrejas neopentecostais. Ele cita, entre outras coisas, a falta de uma liturgia eclesiástica e a pouca atenção dada às Escrituras Sagradas como a única regra de fé e conduta.

“Os neopentecostais afirmam que a Bíblia é a Palavra de Deus e, com isto, nós concordamos. Mas para eles, a palavra dos “profetas”, dos visionários, também é a Palavra de Deus. E, por isto, baseiam suas vidas e suas doutrinas também em visões, ‘novas revelações’ e em experiências místicas.” [4]

Esse é o ponto “x” da questão colocada pela maioria dos estudiosos do movimento, ou seja, a falta de uma doutrina sólida acompanhada de um discipulado sistêmico e bíblico. Há casos de indivíduos que se deixam batizar por mais de cinco vezes nos templos da IURD por acreditar que tal prática irá “purificá-lo por completo” (sic) como se as águas batismais possuíssem qualquer poder a não ser o simbolismo que proporciona aos verdadeiros nascidos da água e do Espírito.

É a falta de uma hermenêutica sadia a causa da maioria das crenças e práticas impuras praticadas pela liderança da IURD, segundo conclui o dossiê “Análise da Teologia e Práxis da Igreja Universal do Reino de Deus” publicado pela Igreja Presbiteriana do Brasil e que se encontra disponível no livro “Igreja Universal do Reino de Deus – Sua doutrina e prática” (S. Paulo: Editora Cultura Cristã, 1997 p. 28). O documento faz a seguinte afirmação com relação à maneira como os líderes da IURD interpretam as Escrituras.

“O método de interpretação das Escrituras utilizado por bispos e pastores da IURD consiste em geral numa atualização ou transposição das experiências religiosas de personagens bíblicas para os dias atuais. Isto ocorre em virtude do que entendem ser a Bíblia. Macedo não parece ver a Bíblia como a revelação proporcional de Deus, mas como um livro de experiências religiosas, que começa com Israel no Velho Testamento e termina com a humanidade em Apocalipse, experiências estas que podem ser repetidas nos mesmos moldes, nos dias atuais.

Assim, a repetição ou re-encenação de episódios e eventos bíblicos é utilizada como ferramenta que lhes permite usar as Escrituras como base de sua prática... Por exemplo, assim como Noé fez uma aliança com Deus, podemos nós também fazê-la. Assim como Josué cercou as muralhas de Jericó e ao som de trombetas elas caíram, assim podemos cercar as muralhas das dificuldades e problemas e derrubá-los em nome de Jesus (usando uma trombeta de plástico e uma muralha de isopor). A vara que Moisés usou, o cajado de Jacó, os aventais de Paulo – todas estas coisas, e muitas outras tiradas das histórias bíblicas, se tornam tipos da utilização de apetrechos semelhantes, aos quais é atribuída (apesar das negações em contrário) algum valor espiritual na resolução de problemas”. [5]

Leonildo Campos, usado como referência pelo dossiê, faz coro ao dizer que a Bíblia é muito mais que um depósito de símbolos, alegorias e de cenas dramáticas ou até um amuleto para exorcizar demônios e curar enfermos do que a Palavra de Deus, encarada por outros protestantes como “regra de fé e prática”, e para os fundamentais, a “regra infalível”. Campos é autor do livro “Teatro, Templo e Mercado” (S. Paulo: Simpósio Editora, 1999, p. 82) onde faz uma análise do uso da fé como instrumento de riqueza pelas igrejas neopentecostais e demais grupos positivistas.

Superficialidade e engodo psicológico

Devido à ênfase na liturgia envolvente, curas e exorcismos, os neopentecostais são na sua maioria superficiais na fé e no conhecimento das Escrituras, segundo expõe Marinho em “Pontos Discutíveis do Movimento Neopentecostal”. Não somente isso, mas também a falta de uma doutrina bíblica e discipulado fazem com que os indivíduos que recorrem aos templos neopentecostais permaneçam ignorantes em suas crendices e continuem a praticá-las. Nesse ponto, a IURD se assemelha ao catolicismo ao incorporar todo tipo de religiosidade oferecendo-lhe valores cristãos, ao mesmo tempo em que libera seus dizimistas para que frequentem outros locais de culto e não tenham que se submeter aos princípios bíblicos e cristãos.

Por outro lado, existe uma tentativa de “isolamento” desses indivíduos, tirando-lhes sua capacidade de discernimento e/ou compreensão dos fatos que ocorrem em seu entorno. Um exemplo disso é o uso da psicanálise nas reuniões da IURD, como revela o artigo A ciência dos transes (Época, 28 de abril, 2003) que compara as práticas neopetencostais aos princípios psicológicos defendidos por Emile Durkhein (autor do estudo sobre a função dos transes nas sociedades primitivas) e o neurologista Jean-Martin Charcot (que mostrou como as técnicas de hipnose induzem as incorporações de “espíritos”). Na matéria, a revista cita uma declaração de uma ex-fiel da Igreja Universal que revela como os bispos e seus auxiliares aprendem a induzir o transe.

“Quando a pessoa está tonta, fica mais aberta para manifestar os demônios”, diz a obreira Aparecida Santos, ex-fiel da Igreja Universal, atualmente na Igreja Internacional da Graça de deus. Ela costuma pôr a mão na cabeça dos fieis e fazê-la rodar. Outro recurso que funciona é tocar músicas altas no teclado, com acordes bem tenebrosos. ‘Porque o demônio não gosta de silêncio’, explica a obreira. Aparecida aprendeu as técnicas do exorcismo na Universal, onde passou cinco anos como auxiliar de pastores.” [6]

Outro recurso utilizado pela IURD é o chamado “Jejum dos 21 dias” período em que os fieis devem se concentrar nos discursos da igreja e se isolar do mundo externo, sendo proibidas de ter acesso a qualquer tipo de informação, seja por meio de jornais, sites, rádio ou televisão. “O Bispo Romualdo e os pastores têm sugerido acessar apenas o blog do Bispo Macedo onde haverá textos para meditação nesse período de Jejum”, revela o frequentador Alexandre Fernandes em uma página da web.

O objetivo do “jejum da separação”, segundo os líderes da IURD, é a busca de uma vida espiritual equilibrada. No site IURD.pt encontramos a seguinte afirmação.

“O jejum, para muitos, indica apenas o abster-se da bebida e da comida, e esse é o jejum normal. Já o santo jejum não está relacionado só com isso. E o que é que o/a impede de estar em espírito? Por exemplo, ler livros ou revistas que não falem de Deus, ouvir músicas ou notícias que não falem de Deus, ou seja, que não o/a conectem a Ele e não alimentem o seu espírito.

Iremos fazer um jejum que inclui não assistir televisão, não usar a Internet, não ler revistas e livros, etc. Vamos orar três vezes por dia, de manhã, à tarde e à noite, e você vai fazê-lo e vai-se santificar, fortalecer e investir no seu espírito, para que seja cheia d’Ele”

Apesar do objetivo aparentemente louvável da Igreja Universal, existe por trás um engodo psicológico perigo e que nos remete aos grupos conhecidos como “seitas destrutivas”. Tais segmentos recrutam novos discípulos com promessas de cura, prosperidade e encontro com Deus. Uma vez fisgado, o indivíduo é convidado a se juntar à igreja e se afastar de tudo que possa impedi-lo de desenvolver sua espiritualidade, como familiares e amigos próximos. A partir de então ele passa a pertencer à comunidade, isolando-se física e psicologicamente do mundo exterior. Nestas condições, a manipulação ou lavagem cerebral torna-se fácil, fazendo com que o novo discípulo concorde em entregar suas economias e se dedicar exclusivamente à comunidade religiosa, desenvolvendo atividades que beiram ao “escravismo”. É o caso da Seita do Rev. Moon, a Família (antiga Meninos de Deus), o Templo dos Povos etc.

A Igreja Deus é Amor, com toda sua ritualística e imposição doutrinária, promove algo semelhante ao submeter seus membros a um fanatismo cego e quase doentio, proibindo-lhes de assistir televisão, participar de festas ou mesmo ir à praia. O motivo pelo qual não há uma modernização nos padrões doutrinários da Igreja deve-se ao fato de que submetidos ao manto do fanatismo seus membros continuaram a ofertar e seguir fielmente os desmandos de seu líder máximo, o missionário David Miranda.

Na IURD, apesar da não-obrigatoriedade de se desenvolver uma vida religiosa pautada em usos e costumes, há problemas sérios relacionados às campanhas de prosperidade, como a fogueira santa que todos os anos arrecada milhões de reais e deixa famílias desamparadas, com a entrega quase que total de suas propriedades. Sendo não poucos os casos de ex-fieis que recorrem à justiça para reaver seus bens, com a alegação de indução ao erro.

Ausência da ética cristã

O maior problema relacionado às igrejas neopentecostais, e a IURD é o principal exemplo, é a ausência da ética cristã. Ela compreende diversos aspectos, desde a questão doutrinária até princípios morais defendidos pelo cristianismo bíblico. Augustus Nicodemos define a ética cristã nos seguintes termos:

“A ética cristã, em resumo, é o conjunto de valores morais total e unicamente baseado nas Escrituras Sagradas, pelo qual o homem deve regular sua conduta neste mundo, diante de Deus, do próximo e de si mesmo. Não é um conjunto de regras pelas quais os homens poderão chegar a Deus – mas é a norma de conduta pela qual poderá agradar a Deus que já o redimiu. Por ser baseada na revelação divina, acredita em valores morais absolutos, que são à vontade de Deus para todos os homens, de todas as culturas e em todas as épocas.”

A ética cristã pressupõe defesa dos bons costumes, da moral e de uma vida pautada nas Escrituras Sagradas. Aí temos a questão da defesa da vida, da família e da sociedade como pertencentes a Deus. Questões como o casamento e o aborto são uma das problemáticas quando comparamos a IURD a outras denominações cristãs. Com base em fatos puramente comerciais (digo “comerciais” no sentido literal da expressão), a IURD deixou de ver a vida como elemento máximo das decisões humanas, para transformá-la em uma oportunidade de negócio. A defesa do aborto nada mais é do que uma estratégia, um meio encontrado pela igreja para atrair católicos descontentes com sua religião. É com base em tais parâmetros que a Igreja Universal se define, delineando para o mundo que tipo de indivíduos frequentam seus templos.

São esses mesmos indivíduos que traem seus cônjuges, segundo pesquisa realizada pelo BEPEC – Bureau de Pesquisa e Estatística Cristã. De acordo com o estudo, a porcentagem de neopentecostais que afirmam terem alguma vez praticado infidelidade conjugal é de 26,51%, contra os 21,43% de pentecostais. Os dados revelados pela pesquisa comprovam que a ausência de um discipulado eficiente e ética cristã nas igrejas neopentecostais, resultam em uma massa crua e sem vida composta por indivíduos das mais diferentes confissões religiosas que procuram seus templos atraídos pela propaganda de prosperidade e cura divina. Uma nova reforma se faz mais que urgente.

Notas

1. CORAZZA, S. Templo é Dinheiro, Curitiba. Revista Ideias, maio de 2011

2. COELHO, I.G. Neopentecostalismo, Campinas – SP. Palestra ministrada em abril de 2004 na Faculdade Teológica de Campinas.

3. MARINHO, R. Evangélicos, quem são eles, por que crescem tanto e o que essa expansão significa para o Brasil e para o mundo. São Paulo – SP. Revista Super Interessante, fevereiro de 2004, pág. 55

4. MARINHO. W. Pontos Discutíveis do Movimento Neopentecosta. Ipatinga – MG.

5. Comissão Permanente de Doutrina da Igreja Presbiteriana do Brasil. Igreja Universal do Reino de Deus – Sua Teologia e Sua Prática. S. Paulo: Editora Cultura Cristã, 1997, p. 28

6. A Ciência dos Transes. São Paulo – SP. Época, abril de 2003 págs. 73 e 74

7. NICODEMOS A. Ética Cristã. São Paulo – SP. O Tempora, O Moraes, 2010.



Johnny T. Bernardo

é apologista, escritor, jornalista, colaborador da revista Apologética Cristã e do jornal norteamericano The Christian Post e fundador do INPR Brasil (Instituto de Pesquisas Religiosas). Há mais de dez anos se dedica ao estudo de seitas e heresias, sendo um dos seus campos de atuação a fenomenologia religiosa e religiosidade brasileira.

É também o autor da matéria “Igreja Dividida, as fragmentações do Catolicismo Romano”, publicada no final de 2010 pela Revista Apologética Cristã (M.A.S Editora). Assina também a coluna Giro da Fé da referida revista.

Contato

pesquisasreligiosas@gmail.com
johnnypublicidade@yahoo.com.br





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Onde o Protestantismo errou?


O Protestantismo completa hoje (31) 494 anos de serviços prestados ao Reino de Deus e à humanidade. No Brasil, não passa de 187 anos e com uma média de 40 milhões de evangélicos das mais diversas denominações, que inclui protestantes históricos, pentecostais e neopentecostais. No mundo, existem em torno de 590 milhões de seguidores. Apesar do crescimento exponencial, o Protestantismo falhou ao permitir que grupos dissidentes surgissem de seu meio a partir de líderes carismáticos que, descontentes com a doutrina ou a forma como a igreja mãe conduzia seus membros, partiram para a apostasia e criaram movimentos que hoje são referências mundiais.

Com missionários espalhados por diversas partes do mundo, religiões como as Testemunhas de Jeová, Mormonismo, Adventista do Sétimo Dia, Ciência Cristã, Igreja da Unificação etc., crescem em ritmo acelerado e contam com o apoio de centenas de dissidentes do Protestantismo - indivíduos com pouca formação religiosa (novos convertidos) que são atraídos pelas propostas e interpretações aparentemente “corretas” das Pseudocristãs. Também há casos de pessoas que foram membros de igrejas evangélicas por décadas seguintes, ministros do Evangelho e estudantes de Teologia que por algum motivo acabaram seduzidos por tais movimentos.

Os motivos pelos quais religiões como o Mormonismo ganham adeptos dentre os evangélicos são os mais diversos, como a pouca atenção dada à formação teológica, discipulado insuficiente, cultos rotineiros, isolamento da juventude etc. O mesmo vale para os que deixam o Protestantismo para se dedicar a uma nova religião, como é o caso de Charles Taze Russell que deixou o presbiterianismo para fundar a Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados. Russell faz parte do período descrito pelo historiador da Igreja Sydeney Ahlstrom, em seu livro A Religious History of the American People, como uma época de insatisfação e apostasia decorrente da decadência do Protestantismo. Embora não mencione Russell, Ahlstrom apresenta cinco movimentos que surgiram como resposta ao declínio da Igreja.

Os mais óbvios foram aqueles como Robert Ingersoll, Henry George, Edward Bellamy, Francis E. Abbot e Clarence Darrow, que abandonaram a Igreja, a despeito do forte interesse religioso que às vezes demonstravam, e tornaram-se defensores do agnosticismo, socialismo, da religião livre ou de pelo menos da total quebra das convenções. Mais moderados, porém igualmente perturbados, os liberais e os pregadores do evangelho social, que buscavam adaptar sua fé e a prática cristã às necessidades modernas mais prementes. Um terceiro grupo incluía aqueles cujo histórico étnico ou alegações particulares (ou ambos) não faziam parte da velha corrente protestante. Mórmons, cientistas cristãos, menonitas, unitarianos e outros movimentos divergentes pertenciam a esta categoria.

O quarto grupo era um vasto movimento interdenominacional dos que exigiam inovações na religião. A maioria dos adeptos estava perturbada pelo declínio da religião dos velhos tempos, com sua ênfase na conversão (...) ricos ou pobres, educados ou iletrados, rurais ou urbanos, batistas ou presbiterianos, estavam todos preocupados com o avanço do Liberalismo teológico e a diminuição do moralismo puritano. O nome dado ao movimento foi Fundamentalismo, adotado e usado pelos seus próprios lideres. O quinto e último grupo efetuou uma separação mais distinta do Protestantismo convencional do que a maioria dos fundamentalistas. [1]

Segundo George A. Mather e Larry A. Nichols, Ahlstrom considera o movimento Holiness, com sua ênfase na santificação e sua revolta contra o direito de ser membro da Igreja, como componente deste quinto grupo. Um segundo elemento que o Movimento Holiness rapidamente incorporou à sua teologia foi o Milenarismo, o qual experimentou um avivamento na Inglaterra e na América. Desta grande mistura de ideias emergiu um movimento que sobreporia a todos os demais em termos de crescimento e sucesso no século 20, na América. Este grupo tornou-se conhecido como Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados, ou simplesmente Testemunhas de Jeová. [2]

Com exceção da Igreja da Unificação e de alguns grupos minoritários, todas as principais dissidências do Protestantismo surgiram a partir dos EUA. Não só porque o país possui o maior número de protestantes do mundo (algo em torno de 160 milhões), mas também pelas características históricas e seus desdobramentos recentes. Ao período descrito por Ahlstrom pode-se acrescentar também o despertamento para o ocultismo, com o reconhecimento do voduísmo como religião (1803), a criação da Caveira e Ossos (1833), o ressurgimento do espiritismo por meio de uma fraude (1847), e a Sociedade Teosófica (1875). Tem-se a partir daí a formação (ao lado do Protestantismo) das duas principais tendências religiosas dos americanos: as Pseudocristãs e o Ocultismo em suas diversas correntes. No século XX as religiões orientais também passariam a compor tal realidade, mesclando-se a grupos cristãos e da Confissão Positiva. Dave Hunt faz a seguinte observação.

Poucas pessoas perceberão a óbvia e hipócrita contradição, pois tantos aceitaram o ensino hinduísta de que tudo é ilusão e que podemos criar com nossa mente qualquer coisa que desejarmos. Tal é o ensino da Escola Unitária do Cristianismo, da Ciência Religiosa, da Ciência da Mente, da Ciência Cristã, dos Seminários de Treinamento Erhard e de muitos outros grupos e “pensamento positivo” e de auto-ajuda da Nova Era. [3]

O que há de comum entre todos esses grupos e correntes é o Protestantismo. Os EUA é um país de origem protestante e tem em sua história indivíduos que contribuíram para o desenvolvimento da fé, mas também alguns que optaram seguir por um caminho alternativo. Essek W. Kenyon é fruto dessa realidade juntamente com Kenneth Hagin. Ambos foram influenciados pelos ensinos de Mary B. Eddy e contribuíram para o surgimento do que no Brasil ficou conhecido como Neopentecostalismo.

Se por um lado o Protestantismo errou, o inverso também é verdadeiro: o desejo de poder e os erros de interpretação do texto sagrado são também uma das causas do surgimento de movimentos paralelos, como o de Hagin, Kenyon e das seitas marginais. A participação dos pais na educação dos filhos constitui também um fator determinante do que eles serão no futuro. Onde há ausência das Escrituras, há indivíduos com tendência mística, liberal ou fundamentalista. Tais características e outras mais são encontradas nos movimentos oriundos do Protestantismo, com indivíduos que tiveram algum tipo de contato com o Evangelho (por influência dos pais ou experiência pessoal), enquanto outros tiveram uma participação mais efetiva (conversão). A seguir conheceremos alguns desses indivíduos, seu relacionamento com o Protestantismo e as religiões que eles fundaram.

Charles Taze Russell

De linhagem escocês-irlandesa, Russell nasceu em 1852, em Allegheny (atual distrito de Pittsburgh, Pensilvânia, EUA). Criado em uma família presbiteriana, demonstrou grande interesse pelas Escrituras e a religião. Conta-se que ele costumava escrever versículos da Bíblia em placas e muros de Allegheny na tentativa de converter os ímpios e alertá-los sobre o perigo do inferno ardente (doutrina que ele abandonaria mais tarde). Aos 13 anos deixa a Igreja Presbiteriana e dois anos depois se faz membro do Congregacionalismo, abandonando-o algum tempo depois ao se declarar cético.

Influenciado pelo pregador adventista Jonas Wendel e após uma parceria com N. H. Barbour (também adventista), Russell reavaliou sua crença nas Escrituras e mais tarde, em 1881, deu início a Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados através da qual passou a difundir seus conceitos, que incluía uma negação da divindade e personalidade do Espírito Santo, da existência de um inferno de fogo, o sono da alma etc. Embora acreditasse na divindade de Cristo, Russell defendia que ela somente foi concedida ao Filho de Deus após sua morte na cruz. Faleceu em 1916 e foi sucedido na presidência pelo juiz Joseph F. Rutherford que em 1931 mudaria o nome da organização para Testemunhas de Jeová.

Joseph Smith

Filho de Joseph e Lucy Smith, Joseph Smith nasceu em 23/12/1805, em Sharon, Vermont, EUA. Após uma crise financeira que atingiu os fazendeiros de Vermont, sua família muda para Palmyra, Nova York onde, algum tempo depois, Joseph Smith seria exposto ao Reavivalismo que fluía a partir do Condado de Ontário. Aos 15 anos de idade, sua mãe, seus dois irmãos Hyram e Samuel e sua irmã Sophronia convertem-se ao presbiterianismo. Sem se deixar seduzir pelo presbiterianismo, Joseph Smith inicia outro relacionamento com a Igreja Metodista que começa ainda em sua juventude e se estende até pelo menos o ano de 1828 quando teria aderido ao ministério.

A morte prematura de seu filho teria feito com que Joseph Smith repensasse seu projeto de “tradução” do Livro de Mórmon e aderisse ao Metodismo. Sua esposa, Emma Smith, frequentava a Igreja desde pelo menos os sete anos de idade, o que teria facilitado a aproximação. De fato, Joseph Smith teria procurado um pastor da Igreja Metodista de Harmony e pedido que o incluísse no livro de classe. Embora os registros da Igreja tenham se perdido com o tempo, uma declaração dada à época por um grupo de metodistas a um jornal de Illinóis e de seu excerto no livro Enigma: Emma Hale Smith, de Linda Newell e Valeen Avery (University of Illinóis Press, 1994, pág. 25) revela que a adesão de Smith ao metodismo realmente ocorreu, embora tenha durado apenas três dias a seis meses.

Proibido de frequentar a Igreja Metodista por conta de suas doutrinas estranhas e praticas fraudulentas, Joseph Smith decide levar adiante seu projeto de tradução das placas que, segundo lhe teria revelado um anjo chamado Moroni, continha “outro testemunho de Jesus Cristo”. Em 1830 publica o primeiro exemplar do Livro de Mórmon e no mesmo ano funda a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias (nome este dado à Igreja quatro anos depois, em 1834).

Um fato curioso sobre o Livro de Mórmon consta de uma declaração do apologista cristão J. K. Van Baalen. Segundo ele, em 1812 um pastor presbiteriano aposentado, chamado Salomão Spaulding, escreveu um livro contendo uma história fictícia dos primitivos habitantes da América. Morreu sem publicar o livro. O manuscrito caiu nas mãos de Sidney Rigdon, ex – pastor batista que mais tarde aderiu à Igreja SUD e se tornou o mentor intelectual de Joseph Smith. Antes de sua conversão, Rigdon teria pastoreado uma Igreja Batista de Mentor, Ohio, da qual eram membros alguns dos futuros lideres da Igreja SUD, como Parley P. Pratt, Isaac Morley e Edward Partrige.

Guilherme Miller

Filho mais velho dentre 15 irmãos, Guilherme Miller nasceu em 15/02/1782, em Pittsfied, Massachusetts. Aos quatro anos de idade seus pais mudam para Nova York. Apesar de sua formação batista – seus pais frequentavam uma Igreja Batista de Low Hampton -, Miller aderiu ao deísmo após seu casamento com Lucy, em 1803. Sua participação na Guerra de 1812, primeiro como voluntário e depois como capitão, causou profundas mudanças em sua forma de ver o mundo e a religião. A recente perda de seu pai e irmã levou Miller a uma nova concepção sobre a vida e a morte. Regressou à Igreja Batista e algum tempo depois começou a pregar e anunciar a segunda vinda de Cristo.

Convicto de que o advento deveria acontecer em 1843, Miller passou a divulgar abertamente sua crença e obteve apoio dos batistas. Começando por Dresden (NY), ministrou palestras por todo o país, falando em igrejas batistas, congregacionais e metodistas. A América foi tomada por um novo avivamento: a dos crentes no Advento de 1843. Multidões convergiam para os EUA em busca de salvação. Em 1840 cerca de 100 mil pessoas seguiam Miller. Chegou o ano prometido e nada aconteceu. Miller disse que se enganou e que a data correta seria 22/10/1844. Ao chegar à nova data, mais uma decepção. Envergonhado e solitário, Guilherme Miller decidiu não mais prever o retorno de Cristo. Seguiu como membro da Igreja Batista, vindo a falecer em 1849.

Mesmo com a retratação de Miller e abandono de suas ideias, alguns de seus discípulos decidiram dar continuidade ao movimento. Em maio de 1863 três grupos se juntaram para fundar a Associação Geral dos Adventistas do Sétimo Dia. O primeiro era liderado por Hiram Edson, ex – metodista de Port Gibson. Segundo ele, Miller não estava equivocado em relação à data da vinda de Cristo, mas sim em relação ao local. Disse ele que na data profetizada por Miller, Cristo havia entrado no santuário celestial para fazer uma obra de purificação. O segundo tinha como líder Joseph Bates, ex-marinheiro que conheceu o Evangelho em uma viagem. Embora sem um histórico protestante, Bates observava o sábado e chegou a escrever um livro sobre o assunto. O terceiro grupo era formado por Ellen Gould White, que dizia ter o dom de profecia e que dos doze aos dezessete anos frequentou, juntamente com seu pai, a Igreja Metodista de Buxton, Maine, tendo sido batizada por imersão em 1842 (então com 17 anos). [4]

Conclusão

O número de pessoas que deixaram o Protestantismo para fundar ou se associar a novas religiões nos EUA e em outras partes do mundo é surpreendente, apesar de não existir uma estatística oficial. Charles T. Russell, Joseph Smith e Ellen G. White (esta última como principal mentora do Adventismo) constituem apenas a ponta do iceberg. Após eles inúmeros outros protestantes ganhariam destaque internacional, como David Berg (ex-pastor da Igreja Discípulos de Cristo e fundador da seita Os Meninos de Deus, hoje chamada de “A Família”), Mary Baker Eddy (ex-membro da Igreja Congregacional Trinitária e fundadora da Ciência Cristã), William Marion Branham (ex-membro de uma Igreja Batista e fundador do Tabernáculo da Fé).

Fora dos EUA, encontramos casos como o do norte-coreano Sun Myung Moon (ex-presbiteriano e fundador da Igreja da Unificação), James Anderson (pastor presbiteriano e fundador da Maçonaria. Apesar de não ter deixado o presbiterianismo, James colaborou com o surgimento de inúmeras outras sociedades secretas e clubes, muitos dos quais de caráter ocultista), Luigi Francescon (ex-diácono da Primeira Igreja Presbiteriana de Cavasso Nuovo, Itália e fundador da Congregação Cristã no Brasil) e Aldo Bertoni (ex-presbiteriano e atual presidente da Igreja Apostólica Santa Avó Rosa, fundada em 1954 no Tatuapé, SP).

Notas

1. MATHER, George e Larry Nichols, Dicionário de Religiões, Crenças e Ocultismo, pág. 449, Editora Vida, 2000
2. Ibidem, pág. 449
3. HUNT, Dave, Hitler, o quase – anticristo, págs. 55 – 56, Chamada da Meia Noite
4. OLIVEIRA, Raimundo, Seitas & Heresias, um sinal dos tempos, pág. 68, CPAD, 1994


Johnny T. Bernardo

é apologista, escritor, jornalista, colaborador da revista Apologética Cristã e do jornal norteamericano The Christian Post e fundador do INPR Brasil (Instituto de Pesquisas Religiosas). Há mais de dez anos se dedica ao estudo de seitas e heresias, sendo um dos seus campos de atuação a fenomenologia religiosa e religiosidade brasileira.

É também o autor da matéria “Igreja Dividida, as fragmentações do Catolicismo Romano”, publicada no final de 2010 pela Revista Apologética Cristã (M.A.S Editora). Assina também a coluna Giro da Fé da referida revista.

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01/11/2011

É Evangélica a Igreja Sinos de Belém?


A Igreja Sinos de Belém é uma das poucas igrejas cuja história não é plenamente conhecida. Seita? Movimento Contraditório? Igreja Evangélica? São perguntas cujas respostas podem variar de acordo com o ponto de vista de cada leitor ou estudioso da religião. O uso do véu, a batina, a quipá (pequeno chapéu em forma de circunferência), o celibato etc., são aspectos que chamam atenção e que despertam a curiosidade sobre que tipo de igreja é o Sinos de Belém. Há quem acuse a SBMP (Sinos de Belém Missão das Primícias) de ser um meio caminho entre o catolicismo e a Congregação Cristã no Brasil.

Fundada em 1/6/1971, no bairro do Cambuci (SP), pelo missionário Josias J. Souza, a SBMP possui 200 templos espalhados por dez estados da Federação – o número de adeptos não é revelado. No interior de SP funciona, em uma área de 30 alqueires, o “Monte Santo”- uma espécie de local sagrado da SBMP que conta com uma igreja, trilhas e até mesmo um poço chamado pelos adeptos de “Tanque de Betesda” onde são realizados batismos. Em um vídeo promocional, o baiano Josias J. Souza compara o “Monte Santo” ao solo sagrado dos messiânicos (referência ao Solo Sagrado de Guarapiranga, protótipo do paraíso terrestre idealizado pelo fundador da Igreja Messiânica Mundial, Mokiti Okada).

Apesar da desconfiança de alguns pesquisadores, a SBMP se diz uma igreja evangélica, que possui um credo e uma liturgia semelhante às demais igrejas evangélicas – com exceção, talvez, da doutrina das primícias e da mistura de costumes, que envolve elementos do Catolicismo, Judaísmo e da Congregação Cristã no Brasil. No site oficial, a SBMP relaciona a falta de conhecimento do ministério como uma das causas da perseguição movida contra a doutrina das primícias.

“Pela falta de conhecimento ao nosso respeito, sofremos ao longo dos anos, algumas perseguições causadas por uma interpretação errada sobre a forma que conduzimos a obra de Deus. Embora o nosso dogma nos distinga de seitas, o fato de obtermos uma congregação de celibatários, carinhosamente classificados como “PRIMÍCIAS”, trás a discordância de alguns que têm o casamento como um mandamento imperativo em suas igrejas e, desprovidos de fé, não aceitam ou não crêem ser possível ao homem abster-se de relacionamento conjugal.”

A doutrina das primícias compreende uma defesa do celibato como parte da vivência cristã. A Igreja Sinos de Belém se diz possuidora do “verdadeiro celibato” – em uma oposição ao Catolicismo Romano, que desde 1074 proíbe o casamento aos sacerdotes. Apesar de sua defesa do celibato, nem todos os membros do ministério da SBMP são celibatários. A missão é restrita a uns poucos membros, como mensageiros, reverendas e evangelistas. Aos demais integrantes do ministério é dada a opção de se casar, como cooperadores, diáconos, presbíteros e pastores.

As primícias, da qual participam homens e mulheres, atuam como um grupo paralelo na SBMP. A vestimenta é caracterizada por um avental branco (no caso dos homens) e um avental branco acompanhado de um véu também branco (no caso das mulheres). Nos cultos, atuam na ministração de louvores, pregação e oração pelos membros.

Apesar da SBMP se dizer uma igreja evangélica e possuir um credo doutrinário compatível com a ortodoxia cristã, como a crença na divindade de Cristo e o arrebatamento da Igreja, a ênfase dada ao celibato, o sincretismo de costumes e o uso de uma liturgia extravagante e por vezes estranha ao praticado pelas igrejas evangélicas tradicionais, gera suspeita e coloca os pesquisadores em alerta sobre que tipo de igreja é a SBMP e os rumos que ela poderá tomar nos próximos anos.


Johnny T. Bernardo

é apologista, escritor, jornalista, colaborador da revista Apologética Cristã e do jornal norteamericano The Christian Post e fundador do INPR Brasil (Instituto de Pesquisas Religiosas). Há mais de dez anos se dedica ao estudo de seitas e heresias, sendo um dos seus campos de atuação a fenomenologia religiosa e religiosidade brasileira.

É também o autor da matéria “Igreja Dividida, as fragmentações do Catolicismo Romano”, publicada no final de 2010 pela Revista Apologética Cristã (M.A.S Editora). Assina também a coluna Giro da Fé da referida revista.

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16/09/2011

Crise atinge nova igreja em São Paulo


A Igreja Apostólica Santa Vó Rosa é a mais nova igreja “evangélica” a ser alvo de denúncias do Ministério Público de São Paulo, que há pelo menos dois anos segue os passos de seu primaz, o Bispo Aldo Bertoni que enfrenta acusações de abuso sexual de seguidoras e enriquecimento ilícito. Outras igrejas, como a Congregação Cristã no Brasil e Sinos de Belém também já frequentaram os meios de comunicação com denúncias semelhantes.

Fundada em 1954 por Eurico Mattos Coutinho, Odete Corrêa Coutinho e Vó Rosa, a Igreja Apostólica possui 25 mil seguidores espalhados por duzentos templos pelo Brasil. Com sede no Tatuapé, zona leste de São Paulo, a IA tem na figura da Santa Vó Rosa sua principal fonte de inspiração e adoração. Ela se referia a si mesma como “O Consolador” prometido por Jesus em João 14. 26, como consta no livro “O Consolador nos Fins dos Tempos”, pág. 104. Em outro livro, “O Espírito Santo de Deus e o Consolador”, pág. 129, encontramos a seguinte declaração sobre a autoridade da Vó Rosa.

“Todo o conhecimento da doutrina e a organização da igreja, Jesus nos deu através da Santa Vó Rosa, pois durante dezesseis anos foi Ela constantemente arrebatada ao Céu em espírito, a fim de aprender o que era necessário e útil para o preparo da Igreja. Assim, através dEla tomamos conhecimento da vontade do Pai quanto à organização da Igreja e grande parte da doutrina.”

Em 1976, então com 76 anos, Vó Rosa veio a falecer vítima de um acidente de trânsito. Ainda em vida, indicou seu sobrinho Aldo Bertoni como seu substituto a quem lhe deu toda autoridade para agir em seu nome. Ao assumir a presidência, Bertoni tornou-se a autoridade máxima e indiscutível da IA, a quem não se pode questionar ou inquirir.

“Esclarecemos que a Santa Vó Rosa não fala por intermédio de mais ninguém a não ser pelo seu sucessor, e não se manifesta em qualquer corpo, mas usa somente a quem preparou. Igualmente dizemos que esta igreja não é dirigida através de visões de quem quer que seja, a não ser pelas concedidas por Ela ao seu representante.” (O Espírito Santo de Deus e o Consolador, pág. 130).

Há pelo menos 35 anos Aldo Bertoni comanda a Igreja Apostólica com mãos de ferro subjugando seus membros a um fanatismo que beira quase ao escravismo, despertando os mais diversos sentimentos, desde amor até o mais puro ódio e aversão. Entre os que se opõem ao seu trabalho, estão mulheres que afirmam terem sido “vítimas” de abuso sexual praticados por Bertoni em sua casa ou escritório. Em recente reportagem sobre o assunto, o Domingo Espetacular (Rede Record) revela que Bertoni oferecia cura de doenças em troca de sexo, e cita alguns casos.

“Uma delas, que preferiu não se identificar, disse que foi falar com ele, para “pedir a oração, pedir ajuda pra ele, pra pedir pelo meu marido, aí ele falou que não”.

- Falou assim pra mim: "não, o deixa ele morrer que aí pelo menos você fica pra mim"
Com Claudete, o drama foi outro. Desesperada com a doença grave da filha pequena, procurou Aldo Bertoni em 2008.

- Eu queria falar com ele pra pedir oração, acreditava que ele podia interceder por nós.
Ela diz que entrou em uma sala pequena usada só para as reuniões particulares. Aldo, então, trancou a porta.

- Ele pegou e falou “e essa dorzinha que você sente aqui?” E já veio e colocou a mão no meu seio. Aí eu peguei e falei pra ele, “mas eu não sinto dor nenhuma no meu peito”, e aí ele falou: sente sim e foi aí que ele começou a me abraçar, me beijar pescoço, na boca, desceu a mão e começou a passar em mim. E ele falava assim “olha nos meus olhos, olha para os meus olhos. E aí fui ficando muito nervosa e não conseguia sair dele.

Ela disse ainda que Bertoni ameaçou até matar o marido dela.

- Ele fez a proposta para eu largar do meu marido, que ele ia me dar tudo. [Que eu] abandonasse tudo, que ele ia cuidar de mim.
Assustada, ela fugiu para nunca mais voltar.

- Eu dediquei 35 anos da minha vida a ele; precisava de ajuda espiritual, oração. Poxa vamos te ajudar... Ele quis abusar de mim, sabe...”

A reportagem também menciona a suspeita de enriquecimento ilícito e que o bispo possui oito armas registradas em seu nome. Procurado, Bertoni não quis se pronunciar. Um pastor da igreja Nilson Bittencourt saiu em defesa do bispo e ameaçou de processo quem denegrir sua imagem.


Johnny T. Bernardo

é apologista, escritor, jornalista, colaborador da revista Apologética Cristã e fundador do INPR Brasil (Instituto de Pesquisas Religiosas). Há mais de dez anos se dedica ao estudo de seitas e heresias, sendo um dos seus campos de atuação a fenomenologia religiosa e religiosidade brasileira.

É também o autor da matéria “Igreja Dividida, as fragmentações do Catolicismo Romano”, publicada no final de 2010 pela Revista Apologética Cristã (M.A.S Editora). Assina também a coluna Giro da Fé da referida revista.

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16/08/2011

Igrejas Neopentecostais: Crédito ou Débito?


Um recente artigo publicado na Revista Ideais fala sobre a problemática dos templos neopentecostais referindo-se a eles como “Templo é Dinheiro”. Ele começa com a pergunta “Crédito ou débito?” que refere-se ao pastor da Igreja Internacional da Graça de Deus ao recolher o dízimo.

A jornalista Sarah Corazza com seu fotógrafo Félix Leal foram fazer uma sondagem nos templos de Curitiba, região sul do Brasil a fim de testemunhar “o fenômeno de religiosidade que arrasta milhões e transforma as novas igrejas em eficientes centros de arrecadação de fundos”, assim como ela acredita.

Corazza compara as farmácias que eram conhecidas por ocupar um lugar em cada esquina da cidade, com as igrejas neopentecostais agora. “Hoje, além das farmácias Curitiba tem muitos templos em cada esquina. é uma das cidades do Brasil em que as novas igrejas pentecostais mais prosperam”.

A jornalista questiona o sucesso dessas igrejas que ela aponta que não é apenas de público mas também de “bilheteria”. Segundo ela, é incalculável o que arrecadam diariamente, sendo suficiente para abrir mais templos e financiar horário televisivo e radiofônico.

Mas nem todas as igrejas pentecostais ou neopentecostais são apenas “balcões de negócios”, ela reconhece. “Vamos separar o joio do trigo... E nem todas as seitas e correntes do tipo são protestantes”.

Entretanto, empreendimentos monstruosos causam dúvidas e críticas para quem não é fiel. Um desses exemplos, a jornalista aponta, é a construção da réplica do templo de Salomão do tamanho de um estádio de futebol e com custo em torno de R$ 200 milhões.

Para a construção é necessário arrecadar fundos a partir do dízimo seguido de um discurso do tipo: “Se você for tocado pelo Espírito Santo a colaborar, então, por favor, use a seguinte conta bancária para fazer sua doação em nome da Igreja Universal do Reino de Deus e entregue o recibo de depósito numa IURD”, apontou Corazza.

O sociólogo Ricardo Marinho, Autor de “Neopentecostais – Sociologia do Novo Pentecostalismo no Brasil”,aponta que a “preocupação dos neopentecostais é com esta vida. O que interessa é o aqui e o agora”.

Outras análises indicam uma falta de hermenêutica sadia como a causa da maioria das crenças e práticas impuras praticadas pela liderança da IURD. Marinho confirma que há superficialidde na fé e no conhecimento das Escrituras em “Pontos Discutíveis do Movimento Neopentecostal”.

O apologista Johnny T. Bernardo vê como o maior problema relacionado às igrejas neopentecostais, citando a IURD como o principal exemplo, a ausência da ética cristã.

“A ética cristã pressupõe defesa dos bons costumes, da moral e de uma vida pautada nas Escrituras Sagradas... a IURD deixou de ver a vida como elemento máximo das decisões humanas, para transformá-la em uma oportunidade de negócio.



The Christian Post / INPR Brasil




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